segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A Feminização da Atividade Docente

Com exceção da educação
profissional, o magistério é ocupado
por 8 mulheres em cada 10 professores.
Por mais que muita coisa tenha
mudado, existem profissões
consideradas erroneamente como
femininas e outras masculinas. A
função de professor é associada pela
sociedade a características femininas,
como delicadeza, atenção e meiguice e, não raro, atribuem-se a elas o papel de mães, ou
seja, como se a escola - leia-se a professora - fosse responsável por ensinamentos que
deveriam ser transmitidos previamente em casa. De acordo com dados da Sinopse do
Professor da Educação Básica, divulgada pelo MEC (Ministério da Educação) no fim de
2010, existem quase 2 milhões de professores, dos quais mais de 1,6 milhão são do sexo
feminino.
A grande maioria das mulheres está alocada nas séries iniciais, conforme o nível
das etapas vai aumentando, os professores do sexo masculino vão se tornando a maioria,
pois a associação com as características femininas vai diminuindo e os salários
aumentam.
Os dados afirmam um fator histórico de desigualdade entre homens e
mulheres, da divisão sexual do trabalho e da vantagem que os homens têm em relação
às mulheres.
Existem várias razões históricas que dão conta da feminização da mulher da
educação, no passado a grande maioria do corpo discente (alunos) era formada por
meninas, e por questões históricas, as mulheres foram criadas para cuidarem de casa e
dos maridos. A escola retinha a missão de preparar as jovens para receber o futuro
marido, portanto nada melhor do que incumbir mulheres para a função de professoras
das séries primárias.
Assim como as alunas das séries iniciais eram preparadas na escola para receber
seu futuro marido, as “normalistas” ou professorinhas como eram chamadas a essa
época também eram as eleitas como perfeitas esposas, mas só depois que encerrassem o
curso. As recém-formadas eram orientadas a serem menos severas e mais dóceis, ser
normalista era o mais alto nível da educação que uma mulher poderia alcançar, isso
ilustra, tão notadamente, como a profissão era considerada feminina.
Com o passar do tempo, as professorinhas
ou normalistas passaram a ser identificadas como
educadoras, isso para ilustrar a amplitude de sua
“missão” enquanto tais: fornecer apoio afetivo,
emocional e intelectual além de valores
corretivos, como bons modos, disciplina, noções
de limpeza etc.
Historicamente ser professora era muito valorizado, pois ocupava a função de
mãe, com a abertura do mercado de trabalho para as mulheres, muitas delas optaram por
cargos diversos, como engenheiras, juízas, advogadas etc., assim ser professora passou
a ser associada apenas às características femininas – assim como as recepcionistas,
secretarias, assistentes sociais, enfermeiras, cabeleireiras etc. Sem que precisassem de
formação para desempenhar a profissão, a remuneração começou a ser influenciada
também por esse fator, porque de acordo com a sociedade, características ligadas ao
cuidado, meiguice, delicadeza não exigiam formação profissional.
A partir do momento em que a profissão docente começa a não ser mais
associada às características femininas, os salários aumentam e os homens começam a se
tornar a maioria. Por outro lado não há políticas públicas para que essa situação seja
revertida, isso vem mudando, mas, em média, a mulher ainda recebe 70% do que recebe
o homem na mesma função.
Há outra teoria para a
feminização da profissão que trata do
fato de que no início, os homens eram a
maioria como professores. Com o
passar o tempo e com o surgimento de
outras profissões mais rentáveis,
começaram a abandonar a profissão
docente, como havia vagas e as
mulheres não tinham outra escolha de
30
profissionalização, começaram a tomar o posto dos homens na educação, aceitando a
baixa remuneração. Durante muito tempo só essa profissão era permitida às mulheres e
era vista como um prolongamento do lar, portanto essa desvalorização do salário foi
acentuada.
No passado, a construção da imagem da professora era de uma pessoa que fazia
parte da família, conhecia os pais dos alunos e era afetuosa, isso era suficiente para que
uma professora fosse considerada profissional.
No presente, não basta só gostar de crianças
para seguir a carreira docente. É preciso formação
contínua e permanente, necessárias à prática
docente. As próprias estudantes ainda carregam essa
divisão de gênero ao se relacionarem com o curso e
a profissão, muitas delas dizem que o curso de
pedagogia é um curso “espera marido”, pois só tem
mulheres. Algumas professoras afirmam, sobretudo na educação infantil, que a docência
na educação infantil não é trabalho para homens, pois os homens têm a natureza bruta,
diferente das mulheres que são delicadas e atenciosas.
É preciso desvincular da profissão docente essa ideia de que as mulheres sempre
ganham menos do que os homens, justificando a saída deles da profissão, deve-se
acabar com esse estereotipo de inferioridade remetido às mulheres, é preciso romper
com o preconceito e ver a atividade docente de uma forma mais ampla. Não podemos
imputar às professoras o estigma de profissão menor, a atividade docente não se dá
somente por meio da afetividade, antes é produtora de conhecimento, construtora e
transformadora da sociedade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário