A escola é o ambiente de trabalho onde
ocorrem as maiores incidências de afastamentos por problemas relacionados aos
transtornos de ansiedade: síndrome do pânico, fobia escolar, depressão, transtorno de
estresse pós-traumático. Essas são algumas doenças que configuram transtornos de
ansiedade e que, em maior ou menor grau, atingem a maioria dos professores.
Falaremos também, detalhadamente, sobre a síndrome de burnout, um
distúrbio pouco estudado no Brasil, mas que já acomete professores há muito tempo.
Por fim, discutiremos meios de promoção do bem-estar docente que podem
ser viabilizados pelos próprios professores para que sua profissão não se torne um
fardo tão pesado.
Alterações Vocais
Voz é o som básico produzido na laringe
pelas pregas vocais (conhecidas como cordas
vocais) e pelo ar vindo dos pulmões. O uso
inadequado desse instrumento afeta a vida pessoal,
social e a vida profissional.
O instrumento de trabalho mais importante
de um educador é a voz. É por meio da voz que
um professor transmite os conhecimentos, media
debates, explica os conteúdos, ou seja, utiliza a
voz de maneira desgastante. Se não houver os cuidados necessários, essa voz tenderá
a ter sérios problemas.
Além do uso constante da voz, problemas emocionais como o estresse e a
depressão podem causar alterações vocais nos educadores.
Um dos primeiros passos que o professor pode dar em direção à boa saúde
vocal é ter percepção em relação aos problemas. Esta percepção pode ser uma
ferramenta muito importante para a solução ou até mesmo para a prevenção desse
problema. Por meio dela, o professor poderá procurar os tratamentos específicos e
impedir o uso incorreto da voz.
Sem a percepção do problema, o professor utiliza a voz de maneira incorreta
– aumenta o tom de voz para encobrir os ruídos existentes, utiliza a respiração de
maneira inadequada, entre outros – o que provoca uma grave sobrecarga no aparelho
fonador, ocasionando alterações vocais. O diagnóstico precoce do problema
diminuiria o tempo de tratamento e não impactaria tanto a voz.
A consulta constante a um profissional da fonoaudiologia é uma premissa
importante para chegar a essa autopercepção constante, mas não basta só saber do
problema, é preciso tratá-lo. A maioria dos profissionais da educação tende a se
acostumar com o problema, fazendo ajustes negativos com a voz ou esperam que a
voz volte ao normal sozinha, sem necessidade de tratamento.
Causas comuns de alteração de voz
Estresse: Segundo uma pesquisa realizada pela Faculdade de Saúde
Pública (FSP) da USP, o estresse está
fortemente ligado aos distúrbios vocais dos
professores e esses males são responsáveis por
incapacitar boa parte dos professores para o
mercado de trabalho.
Entre os profissionais avaliados pela
pesquisa, os que tinham níveis de estresse
mais altos estavam entre os que apresentavam distúrbios vocais. Eles também
apresentavam excesso de trabalho e falta de autonomia no exercício da profissão.
O estresse dos professores está ligado ao alto número de alunos que
começaram a frequentar as escolas, incentivados pelas políticas públicas de inclusão
do governo. Isso fez com que as salas aumentassem de número, no entanto a
estrutura não mudou, o que faz com que os professores assumam muitos alunos,
tendo de dar conta de um maior número de trabalho e toda pressão que isso acarreta.
Esforço Vocal: Como dissemos anteriormente, muitos professores, mesmo
percebendo as alterações vocais, não procuram tratamento adequado, assim fazem
mau uso da voz. Quando isso acontece, o professor é forçado a fazer ajustes para
compensar hábitos vocais prejudiciais ao aparelho fonador.
O uso inadequado da voz, muitas vezes, faz com que os sintomas de desgaste
não apareçam, no entanto, a longo prazo, os danos à voz podem ser graves.
Meio Externo (Acústica Arquitetônica): Um dos grandes problemas do
professor no exercício de sua atividade docente é a falta de infraestrutura. Entre as
deficiências mais indicadas está a falta de preparo acústico das salas de aula. Muitas
escolas não têm salas com arquitetura e acústica adequadas, o que faz com que os
professores se desgastem muito ao tentar serem ouvidos. Grandes problemas
relacionados à voz do professor dizem respeito a isso.
Salas muito altas e muito grandes, além dos ruídos externos prejudicam a
propagação da voz, a distância entre aluno e professor também é um agravante, pois
quanto maior é a distância, mas difícil fica para o aluno entender o que o professor
está falando e com isso o professor usa a voz de maneira inadequada, causando a
disfonia ocupacional.
Entre os problemas de arquitetura acústica e ruídos das salas de aula se
encontram:
Paredes finas e paralelas;
Janelas que não absorvem o som;
Equipamentos ruidosos, como ar condicionado e ventilador;
Proximidade de aeroportos;
Ruas movimentadas;
Estacionamento de veículos;
Cortadores de grama;
Construções próximas.
Uma das soluções encontradas para o problema é o rebaixamento do teto,
pois diminui o barulho da sala.
Salas menores também seriam soluções, pois assim a distância entre alunos e
professores diminuiria.
Sintomas mais comuns de desgaste vocal
A disfonia ocupacional está presente em mais de 60% dos docentes, portanto
é importante estar atento a alguns sinais que merecem cuidados especiais para tratar
do problema ou evitar que ele se manifeste de maneira mais grave.
Enfraquecimento ou perda da voz no final do período diário de aula;
Quebras na voz durante as explanações;
Voz rouca por vários dias;
Dificuldade em cantar ou modular a voz;
Diminuição do volume da voz, gerando esforço para falar um pouco
mais alto ou gritar;
Voz mais grave do que no início da profissão;
Necessidade de limpar a garganta, de pigarrear;
Respiração curta enquanto fala;
Dor na garganta;
Sensação de queimação na garganta;
Esforço para falar;
Tosse seca;
Voz mais rouca na sexta-feira e boa qualidade após o descanso no
final de semana.
Prevenção
Vários fatores com os quais o professor precisa conviver na sala de aula,
como sala de aulas muito grandes, com excesso de alunos e sem tratamento acústico;
ruídos externos fazem com que eles precisem aumentar o tom de voz. Além desses,
outros fatores, como desvalorização do trabalho, indisciplina dos alunos, o aspecto
emocional e a falta de informação sobre cuidados com a saúde vocal causam um dos
problemas que mais afastam professores das salas de aula: a disfonia vocálica.
Os professores fazem parte dos profissionais da voz, pois usam diretamente
essa ferramenta para o exercício de sua profissão. Por conta disso deveriam receber
durante os anos de sua formação, informações de como utilizá-la corretamente, mas
isso não acontece na maioria das Universidades e nem nos programas de educação
continuada das escolas.
Além da autopercepção do uso inadequado da voz, segundo a Cartilha da Voz
do Sinpro – RIO, há várias maneiras de prevenir os distúrbios da voz e preservá-la.
Técnicas de relaxação, respiração e impostação da voz
Relaxação: Todo atleta antes de fazer exercícios precisam fazer exercícios
para relaxar a musculatura para que não haja nenhuma lesão. As cordas vocais são os
músculos que serão exercitados pelo professor durante seu trabalho, portanto é
importante fazer um trabalho especial com as mesmas. A relaxação é o relaxamento
dos músculos então ela é a condição inicial para a realização de exercícios que
ampliem a capacidade respiratória e da voz.
A seguir reproduziremos alguns exercícios de relaxação e respiração da voz,
indicados pela Cartilha da Voz, elaborada pelo Sinpro – Rio:
Relaxação
Em ambiente tranquilo, deite de costas, evitando excesso de luminosidade,
podendo colocar música suave.
Coloque os braços ao longo do corpo, mãos de palmas para cima;
Inspire suavemente pelo nariz e expire pela boca;
Trace uma linha imaginária em torno de seu corpo, como um casulo;
Sinta o espaço que seu corpo ocupa;
Deixe que se soltem os nós de tensão de seus músculos;
Largue-se, relaxe-se, sinta que seu corpo vai ficando pesado como se fosse
adormecer;
Sinta seus pés, pernas, nádegas, ventre, coluna, omoplatas e ombros;
Relaxe;
Preste atenção no pescoço, virando lentamente a cabeça para um lado e para
o outro;
Sinta a nuca e a posição da cabeça;
Relaxe a mandíbula, descerrando os dentes e deixando o queixo cair;
Relaxe as bochechas;
Relaxe a língua, deixando-a estendida no assoalho da boca;
Relaxe as pálpebras, sentindo-as grossas e pesadas sobre os olhos;
Relaxe a testa, deixando-a lisa, sem rugas.
Respiração
Após sentir-se relaxado, ainda deitado, fazer os seguintes exercícios de respiração:
Deitado
Deitado e relaxado, inspirar lentamente pelo nariz, sentindo o movimento
das costelas se alargando. Expirar suavemente pela boca, lenta e totalmente,
sentindo que as costelas se aproximam. Repetir o exercício dez vezes.
Após os exercícios acima, espreguiçar-se, virar para o lado, levantar-se e
passar para os exercícios respiratórios em pé.
Em pé
O mesmo que foi feito deitado. Repetir dez vezes.
Inspirar pelo nariz e soprar como se assoviasse, produzindo o som do S.
Repetir dez vezes.
Inspirar pelo nariz e dividir a expiração em duas vezes; depois em três e
quatro vezes. Repetir dez vezes.
Respiração com movimento dos braços
Inspirar, elevando os braços diante do corpo, abrindo lentamente, e expirar,
voltando os braços para diante do corpo e baixando.
Repetir cinco vezes.
com movimento dos ombros
Deixar o braço pendente junto ao corpo, girar o ombro lentamente para
frente, inspirando e expirando durante o movimento. Repetir cinco vezes.
Primeiro um ombro e depois o outro.
O mesmo movimento para trás. Repetir cinco vezes. Primeiro um ombro e
depois o outro.
Respiração com movimento do pescoço
Deixar a cabeça pender sobre o peito, balançar levemente, depois inspirar
levando a cabeça para trás. Voltar lentamente para frente, expirando pela
boca. Repetir cinco vezes.
Giratório • deixar a cabeça pender sobre o peito, balançar levemente e girar
como se o pescoço fosse um eixo em um movimento total partindo do
centro e terminando no centro. Inspirar enquanto o movimento é executado
e expirar quando voltar ao centro do peito.
Articulação
A articulação ou dicção é a maneira como ocorre a produção de sons da fala
e depende de como movimentamos língua, lábios, mandíbula ou maxilar.
Para emitir corretamente a voz é preciso articular bem. A boa articulação
permite a clareza da comunicação, poupando a voz.
Exercícios articulatórios diante do espelho
Bochechas
Enche as bochechas de ar e explodir (cinco vezes).
Com a boca fechada, passar o ar de uma bochecha para outra (cinco vezes).
Lábios
Fazer mímica exagerada de I-U (cinco vezes) e depois de U-I (cinco vezes).
O mesmo com I-Ê, Ê-I, É-É, A-O, O-A
Língua
Esticar e encolher a língua para fora da boca sem tocar os lábios.
Passar a língua ao redor dos lábios.
Maxilar
Abrir e fechar a boca rápida e fortemente deixando bater os dentes (cinco
vezes).
Abrir a boca lentamente e fechar rapidamente (cinco vezes).
Abrir a boca rapidamente e fechar lentamente (cinco vezes).
Mover bem devagar o maxilar da direita para a esquerda e vice-versa
(cinco vezes).
Mastigar com a boca fechada pronunciando “humm” (cinco vezes)
Como preservar a voz durante as aulas
Quanto ao ambiente
Controle o volume, não grite.
Observe e diminua os ruídos ambientais.
Nas aulas ao ar livre o desgaste da voz é maior; use apitos para chamar
atenção, fale perto das crianças para dar ordens, organize antecipadamente a
dinâmica para jogos, use megafone ou coloque as mãos em torno da boca.
Mesmo para usar microfone é preciso conhecer a técnica vocal.
Quanto à postura
Mantenha-se relaxado com a cabeça e o corpo retos, sem tensão.
Quanto aos hábitos diários
Use giz antialérgico se o quadro for de giz e limpe com pano úmido.
Mantenha na sala de aula uma garrafa de água e beba alguns goles sempre
que for possível.
Evite fumar.
Sempre que puder, utilize recursos didáticos e atividades de menor uso
vocal.
Aulas bem planejadas são mais fáceis de serem transmitidas.
Quanto ao uso da voz Fale em intensidade moderada. Articule com precisão as palavras. Use o
intervalo entre as aulas como repouso vocal; fale menos, evite conversas
ruidosas na sala dos professores.
Cuidado com as comemorações; sempre que possível, use microfone.
Professor de Educação Física, procure executar as ordens separadamente dos
exercícios.
Exercícios de preparação para a projeção da voz:
Produzir o som trrrr... (vibrando a ponta da língua)
Idem o som brrrrr...(vibrando os lábios.)
Exercícios de desaquecimento ao final da aula:
Bocejar de forma bem relaxada, produzindo sons vocálicos ao final.
Fonte: Cartilha da Voz – Sinpro-Rio: Eny Léa Gass (2006)
Para terminar o tópico sobre voz listaremos alguns hábitos saudáveis e alguns
hábitos prejudiciais à saúde vocal.
Hábitos Saudáveis
Beba regularmente água em temperatura
ambiente, em pequenos goles, quando estiver
dando aulas. A água hidrata as pregas vocais.
Articule bem as palavras.
Evite o contato direto com o pó de giz. Quando for
apagar a lousa, afaste o rosto e evite espalhar o pó,
usando o apagador no sentido de cima para baixo.
Mantenha uma alimentação saudável e regular. Evite alimentos indigestos no
período que você estiver lecionando.
Evite o café, bebidas gasosas e o cigarro. Eles irritam a laringe. Além disso, o
cigarro aumenta a chance de câncer de laringe e pulmão.
Evite consumir derivados de leite em excesso, pois engrossam a saliva e
aumentam a vontade de pigarrear.
Espreguice-se na hora de acordar e levantar da cama, e faça alongamentos
para relaxar.
Durante o banho, deixe a água quente cair nos ombros, fazendo leves
movimentos de rotação com a cabeça e ombros. Isso ajuda a diminuir a
tensão do dia a dia.
Com orientação fonoaudiológica, faça exercícios de aquecimento e
desaquecimento vocal, antes e depois das aulas.
Na sala de aula, utilize recursos que aumentem a participação dos alunos e
ajudem a poupar a voz.
Utilize alguns intervalos para descansar a sua voz.
Se possível, utilize microfone durante a aula, desde que sua voz esteja
treinada para usá-lo.
Consulte anualmente o serviço de fonoaudiologia e otorrinolaringologia para
prevenir possíveis problemas.
Hábitos prejudiciais
Gritar. É importante que o professor evite
concorrer com ruídos que acarretem um
aumento na intensidade vocal (carros,
aviões, retroprojetor, ventilador etc.).
Sussurrar. Essa ação força as pregas
vocais.
Pigarrear. Essa ação causa um forte atrito
na pregas vocais, irritando-as.
Ingerir líquidos em temperaturas extremas, ou seja, muito gelados ou muito
quentes.
Falar de lado ou de costas para os alunos. Quando fazemos isso, a tendência é
aumentarmos a intensidade vocal.
Falar enquanto escreve na lousa. Isso faz com que o professor tenha que
aumentar a intensidade de sua voz e que aspire o pó de giz.
Chupar uma bala forte quando estiver com a garganta irritada. Isso mascara o
sintoma e o professor tende a forçar a voz sem perceber. Quando o efeito da
bala passa a irritação na garganta aumenta.
Roupas pesadas e que apertem a região do pescoço e abdômen.
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