segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

SAÚDE EMOCIONAL DO EDUCADOR: Doenças Relacionadas ao Trabalho Docente: ALTERAÇÕES VOCAIS

A escola é o ambiente de trabalho onde
ocorrem as maiores incidências de afastamentos por problemas relacionados aos
transtornos de ansiedade: síndrome do pânico, fobia escolar, depressão, transtorno de
estresse pós-traumático. Essas são algumas doenças que configuram transtornos de
ansiedade e que, em maior ou menor grau, atingem a maioria dos professores.
Falaremos também, detalhadamente, sobre a síndrome de burnout, um
distúrbio pouco estudado no Brasil, mas que já acomete professores há muito tempo.
Por fim, discutiremos meios de promoção do bem-estar docente que podem
ser viabilizados pelos próprios professores para que sua profissão não se torne um
fardo tão pesado.

Alterações Vocais
Voz é o som básico produzido na laringe
pelas pregas vocais (conhecidas como cordas
vocais) e pelo ar vindo dos pulmões. O uso
inadequado desse instrumento afeta a vida pessoal,
social e a vida profissional.
O instrumento de trabalho mais importante
de um educador é a voz. É por meio da voz que
um professor transmite os conhecimentos, media
debates, explica os conteúdos, ou seja, utiliza a
voz de maneira desgastante. Se não houver os cuidados necessários, essa voz tenderá
a ter sérios problemas.
Além do uso constante da voz, problemas emocionais como o estresse e a
depressão podem causar alterações vocais nos educadores.
Um dos primeiros passos que o professor pode dar em direção à boa saúde
vocal é ter percepção em relação aos problemas. Esta percepção pode ser uma
ferramenta muito importante para a solução ou até mesmo para a prevenção desse
problema. Por meio dela, o professor poderá procurar os tratamentos específicos e
impedir o uso incorreto da voz.
Sem a percepção do problema, o professor utiliza a voz de maneira incorreta
– aumenta o tom de voz para encobrir os ruídos existentes, utiliza a respiração de
maneira inadequada, entre outros – o que provoca uma grave sobrecarga no aparelho
fonador, ocasionando alterações vocais. O diagnóstico precoce do problema
diminuiria o tempo de tratamento e não impactaria tanto a voz.
A consulta constante a um profissional da fonoaudiologia é uma premissa
importante para chegar a essa autopercepção constante, mas não basta só saber do
problema, é preciso tratá-lo. A maioria dos profissionais da educação tende a se
acostumar com o problema, fazendo ajustes negativos com a voz ou esperam que a
voz volte ao normal sozinha, sem necessidade de tratamento.
Causas comuns de alteração de voz
Estresse: Segundo uma pesquisa realizada pela Faculdade de Saúde
Pública (FSP) da USP, o estresse está
fortemente ligado aos distúrbios vocais dos
professores e esses males são responsáveis por
incapacitar boa parte dos professores para o
mercado de trabalho.
Entre os profissionais avaliados pela
pesquisa, os que tinham níveis de estresse
mais altos estavam entre os que apresentavam distúrbios vocais. Eles também
apresentavam excesso de trabalho e falta de autonomia no exercício da profissão.
O estresse dos professores está ligado ao alto número de alunos que
começaram a frequentar as escolas, incentivados pelas políticas públicas de inclusão
do governo. Isso fez com que as salas aumentassem de número, no entanto a
estrutura não mudou, o que faz com que os professores assumam muitos alunos,
tendo de dar conta de um maior número de trabalho e toda pressão que isso acarreta.
Esforço Vocal: Como dissemos anteriormente, muitos professores, mesmo
percebendo as alterações vocais, não procuram tratamento adequado, assim fazem
mau uso da voz. Quando isso acontece, o professor é forçado a fazer ajustes para
compensar hábitos vocais prejudiciais ao aparelho fonador.
O uso inadequado da voz, muitas vezes, faz com que os sintomas de desgaste
não apareçam, no entanto, a longo prazo, os danos à voz podem ser graves.
Meio Externo (Acústica Arquitetônica): Um dos grandes problemas do
professor no exercício de sua atividade docente é a falta de infraestrutura. Entre as
deficiências mais indicadas está a falta de preparo acústico das salas de aula. Muitas
escolas não têm salas com arquitetura e acústica adequadas, o que faz com que os
professores se desgastem muito ao tentar serem ouvidos. Grandes problemas
relacionados à voz do professor dizem respeito a isso.
Salas muito altas e muito grandes, além dos ruídos externos prejudicam a
propagação da voz, a distância entre aluno e professor também é um agravante, pois
quanto maior é a distância, mas difícil fica para o aluno entender o que o professor
está falando e com isso o professor usa a voz de maneira inadequada, causando a
disfonia ocupacional.
Entre os problemas de arquitetura acústica e ruídos das salas de aula se
encontram:
 Paredes finas e paralelas;
 Janelas que não absorvem o som;
 Equipamentos ruidosos, como ar condicionado e ventilador;
 Proximidade de aeroportos;
 Ruas movimentadas;
 Estacionamento de veículos;
 Cortadores de grama;
 Construções próximas.
Uma das soluções encontradas para o problema é o rebaixamento do teto,
pois diminui o barulho da sala.
Salas menores também seriam soluções, pois assim a distância entre alunos e
professores diminuiria.
Sintomas mais comuns de desgaste vocal
A disfonia ocupacional está presente em mais de 60% dos docentes, portanto
é importante estar atento a alguns sinais que merecem cuidados especiais para tratar
do problema ou evitar que ele se manifeste de maneira mais grave.
 Enfraquecimento ou perda da voz no final do período diário de aula;
 Quebras na voz durante as explanações;
 Voz rouca por vários dias;
 Dificuldade em cantar ou modular a voz;
 Diminuição do volume da voz, gerando esforço para falar um pouco
mais alto ou gritar;
 Voz mais grave do que no início da profissão;
 Necessidade de limpar a garganta, de pigarrear;
 Respiração curta enquanto fala;
 Dor na garganta;
 Sensação de queimação na garganta;
 Esforço para falar;
 Tosse seca;
 Voz mais rouca na sexta-feira e boa qualidade após o descanso no
final de semana.
Prevenção
Vários fatores com os quais o professor precisa conviver na sala de aula,
como sala de aulas muito grandes, com excesso de alunos e sem tratamento acústico;
ruídos externos fazem com que eles precisem aumentar o tom de voz. Além desses,
outros fatores, como desvalorização do trabalho, indisciplina dos alunos, o aspecto
emocional e a falta de informação sobre cuidados com a saúde vocal causam um dos
problemas que mais afastam professores das salas de aula: a disfonia vocálica.
Os professores fazem parte dos profissionais da voz, pois usam diretamente
essa ferramenta para o exercício de sua profissão. Por conta disso deveriam receber
durante os anos de sua formação, informações de como utilizá-la corretamente, mas
isso não acontece na maioria das Universidades e nem nos programas de educação
continuada das escolas.
Além da autopercepção do uso inadequado da voz, segundo a Cartilha da Voz
do Sinpro – RIO, há várias maneiras de prevenir os distúrbios da voz e preservá-la.
Técnicas de relaxação, respiração e impostação da voz
Relaxação: Todo atleta antes de fazer exercícios precisam fazer exercícios
para relaxar a musculatura para que não haja nenhuma lesão. As cordas vocais são os
músculos que serão exercitados pelo professor durante seu trabalho, portanto é
importante fazer um trabalho especial com as mesmas. A relaxação é o relaxamento
dos músculos então ela é a condição inicial para a realização de exercícios que
ampliem a capacidade respiratória e da voz.
A seguir reproduziremos alguns exercícios de relaxação e respiração da voz,
indicados pela Cartilha da Voz, elaborada pelo Sinpro – Rio:
Relaxação
Em ambiente tranquilo, deite de costas, evitando excesso de luminosidade,
podendo colocar música suave.
 Coloque os braços ao longo do corpo, mãos de palmas para cima;
 Inspire suavemente pelo nariz e expire pela boca;
 Trace uma linha imaginária em torno de seu corpo, como um casulo;
 Sinta o espaço que seu corpo ocupa;
 Deixe que se soltem os nós de tensão de seus músculos;
 Largue-se, relaxe-se, sinta que seu corpo vai ficando pesado como se fosse
adormecer;
 Sinta seus pés, pernas, nádegas, ventre, coluna, omoplatas e ombros;
 Relaxe;
 Preste atenção no pescoço, virando lentamente a cabeça para um lado e para
o outro;
 Sinta a nuca e a posição da cabeça;
 Relaxe a mandíbula, descerrando os dentes e deixando o queixo cair;
 Relaxe as bochechas;
 Relaxe a língua, deixando-a estendida no assoalho da boca;
 Relaxe as pálpebras, sentindo-as grossas e pesadas sobre os olhos;
 Relaxe a testa, deixando-a lisa, sem rugas.
Respiração
Após sentir-se relaxado, ainda deitado, fazer os seguintes exercícios de respiração:
Deitado
 Deitado e relaxado, inspirar lentamente pelo nariz, sentindo o movimento
das costelas se alargando. Expirar suavemente pela boca, lenta e totalmente,
sentindo que as costelas se aproximam. Repetir o exercício dez vezes.
 Após os exercícios acima, espreguiçar-se, virar para o lado, levantar-se e
passar para os exercícios respiratórios em pé.
Em pé
 O mesmo que foi feito deitado. Repetir dez vezes.
 Inspirar pelo nariz e soprar como se assoviasse, produzindo o som do S.
Repetir dez vezes.
 Inspirar pelo nariz e dividir a expiração em duas vezes; depois em três e
quatro vezes. Repetir dez vezes.
Respiração com movimento dos braços
 Inspirar, elevando os braços diante do corpo, abrindo lentamente, e expirar,
voltando os braços para diante do corpo e baixando.
 Repetir cinco vezes.

com movimento dos ombros
 Deixar o braço pendente junto ao corpo, girar o ombro lentamente para
frente, inspirando e expirando durante o movimento. Repetir cinco vezes.
Primeiro um ombro e depois o outro.
 O mesmo movimento para trás. Repetir cinco vezes. Primeiro um ombro e
depois o outro.
Respiração com movimento do pescoço
 Deixar a cabeça pender sobre o peito, balançar levemente, depois inspirar
levando a cabeça para trás. Voltar lentamente para frente, expirando pela
boca. Repetir cinco vezes.
 Giratório • deixar a cabeça pender sobre o peito, balançar levemente e girar
como se o pescoço fosse um eixo em um movimento total partindo do
centro e terminando no centro. Inspirar enquanto o movimento é executado
e expirar quando voltar ao centro do peito.
Articulação
A articulação ou dicção é a maneira como ocorre a produção de sons da fala
e depende de como movimentamos língua, lábios, mandíbula ou maxilar.
Para emitir corretamente a voz é preciso articular bem. A boa articulação
permite a clareza da comunicação, poupando a voz.
Exercícios articulatórios diante do espelho
Bochechas
 Enche as bochechas de ar e explodir (cinco vezes).
 Com a boca fechada, passar o ar de uma bochecha para outra (cinco vezes).
Lábios
 Fazer mímica exagerada de I-U (cinco vezes) e depois de U-I (cinco vezes).
O mesmo com I-Ê, Ê-I, É-É, A-O, O-A
Língua
 Esticar e encolher a língua para fora da boca sem tocar os lábios.
 Passar a língua ao redor dos lábios.
Maxilar
 Abrir e fechar a boca rápida e fortemente deixando bater os dentes (cinco
vezes).
 Abrir a boca lentamente e fechar rapidamente (cinco vezes).
 Abrir a boca rapidamente e fechar lentamente (cinco vezes).
 Mover bem devagar o maxilar da direita para a esquerda e vice-versa
(cinco vezes).
 Mastigar com a boca fechada pronunciando “humm” (cinco vezes)
Como preservar a voz durante as aulas
Quanto ao ambiente
 Controle o volume, não grite.
 Observe e diminua os ruídos ambientais.
 Nas aulas ao ar livre o desgaste da voz é maior; use apitos para chamar
atenção, fale perto das crianças para dar ordens, organize antecipadamente a
dinâmica para jogos, use megafone ou coloque as mãos em torno da boca.
 Mesmo para usar microfone é preciso conhecer a técnica vocal.
Quanto à postura
 Mantenha-se relaxado com a cabeça e o corpo retos, sem tensão.
Quanto aos hábitos diários
 Use giz antialérgico se o quadro for de giz e limpe com pano úmido.
 Mantenha na sala de aula uma garrafa de água e beba alguns goles sempre
que for possível.
 Evite fumar.
 Sempre que puder, utilize recursos didáticos e atividades de menor uso
vocal.
 Aulas bem planejadas são mais fáceis de serem transmitidas.
Quanto ao uso da voz  Fale em intensidade moderada. Articule com precisão as palavras. Use o
intervalo entre as aulas como repouso vocal; fale menos, evite conversas
ruidosas na sala dos professores.
 Cuidado com as comemorações; sempre que possível, use microfone.
 Professor de Educação Física, procure executar as ordens separadamente dos
exercícios.
Exercícios de preparação para a projeção da voz:
 Produzir o som trrrr... (vibrando a ponta da língua)
 Idem o som brrrrr...(vibrando os lábios.)
Exercícios de desaquecimento ao final da aula:
 Bocejar de forma bem relaxada, produzindo sons vocálicos ao final.
Fonte: Cartilha da Voz – Sinpro-Rio: Eny Léa Gass (2006)
Para terminar o tópico sobre voz listaremos alguns hábitos saudáveis e alguns
hábitos prejudiciais à saúde vocal.
Hábitos Saudáveis
 Beba regularmente água em temperatura
ambiente, em pequenos goles, quando estiver
dando aulas. A água hidrata as pregas vocais.
 Articule bem as palavras.
 Evite o contato direto com o pó de giz. Quando for
apagar a lousa, afaste o rosto e evite espalhar o pó,
usando o apagador no sentido de cima para baixo.
 Mantenha uma alimentação saudável e regular. Evite alimentos indigestos no
período que você estiver lecionando.
 Evite o café, bebidas gasosas e o cigarro. Eles irritam a laringe. Além disso, o
cigarro aumenta a chance de câncer de laringe e pulmão.
 Evite consumir derivados de leite em excesso, pois engrossam a saliva e
aumentam a vontade de pigarrear.
 Espreguice-se na hora de acordar e levantar da cama, e faça alongamentos
para relaxar.
 Durante o banho, deixe a água quente cair nos ombros, fazendo leves
movimentos de rotação com a cabeça e ombros. Isso ajuda a diminuir a
tensão do dia a dia.
 Com orientação fonoaudiológica, faça exercícios de aquecimento e
desaquecimento vocal, antes e depois das aulas.
 Na sala de aula, utilize recursos que aumentem a participação dos alunos e
ajudem a poupar a voz.
 Utilize alguns intervalos para descansar a sua voz.
 Se possível, utilize microfone durante a aula, desde que sua voz esteja
treinada para usá-lo.
 Consulte anualmente o serviço de fonoaudiologia e otorrinolaringologia para
prevenir possíveis problemas.
Hábitos prejudiciais
 Gritar. É importante que o professor evite
concorrer com ruídos que acarretem um
aumento na intensidade vocal (carros,
aviões, retroprojetor, ventilador etc.).
 Sussurrar. Essa ação força as pregas
vocais.
 Pigarrear. Essa ação causa um forte atrito
na pregas vocais, irritando-as.
 Ingerir líquidos em temperaturas extremas, ou seja, muito gelados ou muito
quentes.
 Falar de lado ou de costas para os alunos. Quando fazemos isso, a tendência é
aumentarmos a intensidade vocal.
 Falar enquanto escreve na lousa. Isso faz com que o professor tenha que
aumentar a intensidade de sua voz e que aspire o pó de giz.
 Chupar uma bala forte quando estiver com a garganta irritada. Isso mascara o
sintoma e o professor tende a forçar a voz sem perceber. Quando o efeito da
bala passa a irritação na garganta aumenta.
 Roupas pesadas e que apertem a região do pescoço e abdômen.

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