segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

SEDOE: Identificando o Burnout

A síndrome de burnout é reconhecida pelo ministério da saúde no o Cid-10,
sob o código Z73.0 e é bem diferente de depressão, por mais que os sintomas se
pareçam. Na verdade a SB é uma resposta às situações de estresse pelas quais os
professores passam todos os dias, um estado de esgotamento.
A SB está relacionada especificamente ao local de trabalho. O portador se
sente bem em outros lugares, fazendo outras atividades; diferente do portador de
depressão que, em todos os momentos sofre com os sintomas, independente do lugar
em que esteja.
A síndrome burnout não tem relação direta com a violência existente nas
escolas e das ameaças sofridas em sala de aula, claro que é um agravante, entretanto
existem outros transtornos (síndrome do pânico, transtorno de estresse póstraumático,
depressão) que têm a violência como causa predominante.
Os sintomas da SB são divididos em quatro categorias:
Físicos: Perda da resistência imunológica, alterações na tireóide,
vulnerabilidade às doenças cardíacas, crises hipertensivas, diabetes. Esses sintomas
podem acarretar problemas graves, como insuficiência renal, infartos, AVC etc.
Comportamentais: Cinismo, impotência, isolamento, irritabilidade, apatia,
comportamentos excessivos de fuga – sexo, bebidas, jogos, medicamentos.
Afetivos: Esgotamento psicológico e emocional, estresse crônico,
deteriorizacão da qualidade de vida, esgotamento emocional, desesperança,
frustração, sensação de estar aprisionado, desespero, ressentimento, culpa etc.
Cognitivos: Despersonalização do profissional, disfunções no desempenho
profissional, falta de concentração, esquecimento, desconexão etc.
Mas é importante lembrar que só um médico pode fazer o diagnóstico preciso
da SB e que às vezes a manifestação de alguns sintomas ou de alguma dimensão da
SB não significa especificamente que a pessoa seja portadora da síndrome.

 Principais Causas
A síndrome de burnout é considerada um transtorno de ansiedade que
acomete profissionais que tem contato direto com as pessoas e é caracterizado pelo
esforço despendido por esse contato, em razão disso, essa síndrome é elencada como
uma doença emocional do educador, que é uma das maiores vítimas desse mal.
Professores que trabalham com alunos de comportamento irregular ou
indisciplinado têm propensão a sofrer com o estresse gerado no trabalho. As causas
desse desconforto podem se manifestar por meio dos seguintes fatores:
 Políticas (ou falta delas) inadequadas da escola para casos de indisciplina;
 Atitude, comportamento distante e falta de apoio por parte dos gestores;
 Avaliação negativa dos administradores e supervisores;
 Atitude e comportamentos individualistas de outros professores e
profissionais;
 Carga de trabalho excessiva;
 Oportunidades de carreira pouco interessantes (baixos salários, péssimas
condições de trabalho);
 Baixo status da profissão de professor;
 Falta de reconhecimento por parte dos alunos e gestores de ensino;
 Alunos barulhentos, indisciplinados e desinteressados;
 Lidar com a cobrança dos pais.
Os efeitos da SB se manifestam da seguinte forma:
 Sentimento de exaustão;
 Sentimento de frustração;
 Sentimento de incapacidade;
 Sentir-se culpado por não fazer o bastante;
 Irritabilidade.
Segundo a pesquisadora Iône Vasques-Menezes, no caso dos professores, a
principal causa da síndrome de burnout é a falta de reconhecimento da profissão por
parte da sociedade em geral.
Os agentes dessa falta de reconhecimento são três:
 Sistema: A desvalorização do professor por parte do sistema se dá por meio das
péssimas condições de trabalho, desequilíbrio na distribuição de fundos da
educação básica, falta de material de apoio, atraso na aplicação de planos de
educação, baixos salários, acúmulo de carga horária, falta de programas de
capacitação e formação continuada, que não corresponde à realidade vivida em
sala de aula;
 Alunos: Indisciplina na sala de aula, violência, falta de compromisso, apatia etc.;
 Sociedade: Perguntas como: “O que você faz além de dar aulas?”; “Além de dar
aulas, você trabalha?” são recorrentes na sociedade em geral. Os pais não
valorizam os professores, mas delegam a estes a função de educar seus filhos,
isso é resultado de uma falsa ideia inculcada na cabeça das pessoas de que o
professor é preguiçoso, responsável pela apatia e indisciplina dos alunos etc.
Falta a organização por parte da sociedade, e da própria classe docente de
forma a pressionar o governo para que crie políticas públicas que destinem mais
recursos à educação básica.
Outra causa relacionada ao burnout é a sensação de impotência que
frequentemente se manifesta em duas situações:
 Na atividade docente, muitas vezes, existem tarefas que não dependem
somente do professor para serem realizadas e, diante disso, o educador é tomado de
desestímulo.
 O posicionamento dos alunos frente à matéria e ao professor, muitos dos
alunos encaram a sala de aula como um campo de batalha em que professores e
alunos são inimigos, daí surge a indisciplina e apatia.
Em matéria de apatia, desinteresse e indisciplina por parte dos alunos, na sua
grande maioria, os docentes atribuem a culpa a si mesmo quando já estão em uma
fase crítica da doença. Veja o depoimento do professor universitário Fernando Pachi:
“Acredito que a situação de maior estresse para o
professor continua sendo a indisciplina na sala de aula.
Mediar a relação com os alunos fica dez vezes mais
desgastante em situações em que você tem de chamar
atenção, interromper a aula, pensar em como motivar os
alunos, erguer o tom de voz. Tudo isso contribui ao longo do
tempo – podem ser meses – para uma situação de estresse e
desmotivação. Isso porque o foco é sempre motivar os
alunos! Aí a cobrança interna fica bem maior, e vem uma
certa sensação de fracasso quando os resultados esperados
não são atingidos, ou seja, quando o curso não corre bem, por
conta de uma “interação na sala de aula mal resolvida”.
Dicas para prevenir a síndrome de burnout:
A psicóloga Beatriz Accioly, em seu blog de psicologia descreve algumas
dicas para prevenir o burnout no ambiente de trabalho:
Peça Ajuda. Procure um profissional de saúde, como um psicólogo ou um
médico que possa ajudar você a avaliar as melhores formas de lidar com a situação.
Dê um tempo. Se o burnout parece inevitável, dê um tempo total do trabalho.
Saia de férias ou use os seus dias de licença, peça uma licença temporária para se
ausentar - qualquer coisa que possa remover você dessa situação. Use o tempo de
distância para recarregar suas baterias e ganhar perspectiva.
Cuide da sua saúde. É importante manter um bom nível de saúde física, por
isso coma bem, durma o bastante e faça com que os exercícios sejam parte da sua
rotina.
Cuide de você. É importante que você preste atenção às suas necessidades, e
encontre maneiras de satisfazê-las.
Utilize técnicas antiestresse. Como o burnout está relacionado com o
estresse, muitas das técnicas de administração e prevenção do estresse ajudam a
prevenir e minimizar os efeitos do burnout.
Cultive relacionamentos. É importante cultivar relacionamentos com outras
pessoas, e passar tempo se sociabilizando. Poucos relacionamentos e isolamento
podem contribuir para a síndrome de burnout, enquanto relacionamentos positivos
podem reduzir o seu impacto.
5.2.2 Principais Consequências
As consequências da síndrome de burnout nos professores e no sistema de
ensino são muito graves. O mal estar que se instala nos educadores tem reflexos
diretos na educação.
Na dimensão de
despersonalização, as consequências
para os alunos são alarmantes, pois os
professores criam um distanciamento
que atrapalha a mediação do
conhecimento. O professor não se
envolve afetivamente com o aluno e
não se importa com o real aprendizado, pois crê que não há esforço por parte do
aluno para aprender e assim o educador não se sente na obrigatoriedade de se
esforçar para ensinar.
Na questão do envolvimento pessoal com o trabalho, a situação é mais crítica,
pois muitos professores não se sentem capazes de ensinar, há muito absenteísmo e
muitas vezes o docente abandona o cargo por se sentir incapaz ou abandona
figurativamente a função: está na escola para ensinar, mas se torna apático e suas
aulas não surtem o efeito esperado.
A seguir disponibilizamos doze estágios da síndrome de burnout:
 Necessidade de se afirmar;
 Dedicação intensificada - com predominância da necessidade de fazer tudo
sozinho;
 Descaso com as necessidades pessoais - comer, dormir, sair com os amigos
começa a perder o sentido;
 Recalque de conflitos - o portador percebe que algo não vai bem, mas não
enfrenta o problema. É quando ocorrem as manifestações físicas;
 Reinterpretação dos valores - isolamento, fuga dos conflitos. O que antes tinha
valor sofre desvalorização: lazer, casa, amigos, e a única medida da autoestima é
o trabalho;
 Negação de problemas - nessa fase os outros são completamente desvalorizados
e tidos como incapazes. Os contatos sociais são repelidos, cinismo e agressão são
os sinais mais evidentes;
 Recolhimento;
 Mudanças evidentes de comportamento;
 Despersonalização;
 Vazio interior;
 Depressão - marcas de indiferença, desesperança, exaustão. A vida perde o
sentido;
 E, finalmente, a síndrome do esgotamento profissional propriamente dita, que
corresponde ao colapso físico e mental. Esse estágio é considerado de
emergência e a ajuda médica e psicológica uma urgência.

 Tratamento
O tratamento assim como o diagnóstico da síndrome de burnout só pode ser
feito por um profissional, ou seja, um psicanalista. O tratamento é feito com a
mediação do mesmo por meio de técnicas psicoterápicas diversas. Se os sintomas do
paciente foram também físicos, como dores, alergias, alterações na pressão ou
diabetes o tratamento também pode ser feito com acompanhamento de um médico.
Os medicamentos variam desde analgésicos até ansiolíticos e antidepressivos,
conforme cada caso. Importante salientar que somente um profissional pode indicar a
medicação, que muitas vezes pode ser dispensada.
Algumas estratégias que podem ser usadas para amenizar esse estresse são:
 Utilização de técnicas de respiração e relaxamento;
 Organização do tempo e definição das prioridades;
 Manutenção de uma dieta equilibrada ou balanceada;
 Prática de exercícios físicos;
 Discussão de problemas com colegas de profissão;
 Maior tempo para o lazer;
 Ajuda profissional da medicina convencional ou de terapias alternativas.
Existem algumas estratégias que podem ser usadas para evitar ou diminuir o estresse:
 Dar tempo aos professores para que eles colaborem ou conversem;
 Prover os professores com cursos de especialização e formação continuada;
 Reconhecer o trabalho dos professores, apoio em suas práticas e respeito pelo seu
trabalho;
 Dar mais assistência e suporte;
 Disponibilizar mais tempo para planejamento de aulas
 Prover os professores com mais informações sobre alunos com comportamentos
irregulares e também sobre as opções de como lidar com eles;
 Envolver os professores nas tomadas de decisão da escola e melhorar a
comunicação com a escola.
A pesquisa de Codo sobre Burnout entre os educadores
Muitos educadores tendem a tratar a síndrome de burnout como depressão ou
ansiedade, justamente por não conhecerem esse tipo de transtorno, assim acabam por
não tratar a real origem do problema.
Quando o professor entra em burnout é porque já está no último estágio de
estresse por diversos motivos vindos da profissão. Como foi dito anteriormente, o
estado de depressão e de burnout são diferentes, pois enquanto este se relaciona
diretamente com o trabalho e todas as suas funções, aquele é considerado
permanente.
Pensando nessa falta de conhecimento
e em ajudar professores que passavam por
esse estado de estafa crítica, foi desenvolvida
uma grande pesquisa coordenada por
Wanderley Codo, coordenador do laboratório
de psicologia do trabalho da Universidade de
Brasília - LPT/IP/UnB, a fim de desvendar os
mistérios acerca da síndrome de burnout.
Essa pesquisa teve como objetivo trazer esclarecimentos acerca desse
transtorno e medir qual é a incidência em educadores de várias escolas e de vários
estados. É importante notar que esse, não é só um problema da educação pública do
Brasil, é um mal que afeta profissionais – que precisam se relacionar com muitas
pessoas e conviver, muitas vezes, com o problema de cada uma – de todo mundo.
Considerando os profissionais da educação de várias partes do mundo e as
três dimensões do burnout, temos os seguintes dados:
PRESENÇA DOS COMPONENTES DE BURNOUT ENTRE OS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO

DESPERSONALIZAÇÃO: BAIXA 69,1%, MODERADA 20,2%, ALTA 10,7%,TOTAL 100%
EXAUTÃO EMOCIONAL: BAIXA 47,9%, MODERADA 27%,ALTA25,1%, TOTAL 100%
ENVOLVIMENTO PESSOAL: BAIXA 31,6%, MODERADA 31,5%, ALTA 37%,TOTAL 100%

Fonte: Burnout: sofrimento psíquico dos trabalhadores em educação: CODO &
VASQUES MENEZES
Os resultados da pesquisa de Codo sobre síndrome de burnout foram
alarmantes. Considerando pelo menos uma das dimensões da SB, a incidência foi de
48,4% entre os profissionais da educação, ou seja, praticamente metade de toda a
população estudada.
É importante notar que a SB é um fenômeno que se manifesta também em
outros profissionais da educação, além dos educadores, em porcentagens
preocupantes.


Para qualquer empresa, o melhor trabalhador é aquele satisfeito com sua
profissão e seu trabalho. Resultados da pesquisa de Codo atestam que 86% dos
professores da rede pública de ensino de 1º e 2º graus estão satisfeitos com o seu
trabalho. Vendo por esse lado esse profissional deveria ser considerado o melhor
trabalhador, pois apesar das péssimas condições de trabalho e péssimos salários,
ainda se sentem satisfeitos com seu ofício.

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