terça-feira, 20 de janeiro de 2015

SEDOE: Promoção do Bem-estar Docente

Leonardo Boff, em seu livro A
Águia e a Galinha: uma metáfora da
condição humana (2008), exemplifica a
condição humana por meio de uma
metáfora utilizando duas figuras: A águia
e a galinha. O aprisionamento, a falta de
perspectiva, a limitação, o prosaico
seriam simbolizados pela figura da
galinha (que vive em terra firme, muitas vezes presa, ciscando) e tudo o que for
criativo, sonhador, ilimitado, inovador, poético seria representado pela figura da
águia (que é um animal imponente, que voa grandiosamente).
Sabemos da dificuldade de cultivar e expressar a águia que existe dentro de
cada um, ou por falta de ânimo ou por fatores externos, mas para que a saúde
emocional não seja comprometida é preciso viver com entusiasmo diante das
diversas situações pelas quais passamos diariamente.
A pressão e as obrigações do dia a dia fazem com que as pessoas tomem
atitudes automáticas, tornando a vida um grande círculo vicioso, em que tudo é
realizado da mesma maneira, todos os dias. A comunidade escolar e a sociedade, em
geral, ditam comportamentos, em sua grande maioria, não condizentes com a prática
docente, fazendo com que os professores fiquem aprisionados de modo a não realizar o seu trabalho docente com criatividade, afeto e amor, conceitos importantíssimos
para que o ensino/aprendizagem seja efetivado.
Cabe ao professor ter a percepção de quais são as pessoas e situações
opressoras, que sugam sua criatividade criadora e o faz viver como mero reprodutor
de conteúdos, predominantemente defasados e inúteis à clientela, ou seja, aos alunos.
Essa percepção fará com que o professor tenha autonomia e consiga ter o domínio
próprio de sua vida e de sua profissão, diminuindo assim, consideravelmente, os
níveis de estresse e, consequentemente, evitando doenças decorrentes desse.
Em seu livro “A águia e a galinha”, Boof (2008) discorre sobre uma conversa
que teve com um biólogo acerca das águias. Falou-me da águia brasileira, Harpia
harpyja, (...) Hoje, acuada pelo desmatamento selvagem, sobrevive nas florestas
acima da linha do Equador, na região amazônica. Essa metáfora se encaixa
perfeitamente no que diz respeito aos professores que se afastam da sala de aula por
não suportarem as pressões diárias, exaustos, sucumbem e desistem (burnout).
Todo indivíduo que vive em sociedade está exposto a uma série de
circunstâncias pelas quais é necessário atravessar. Dificuldade de todas as esferas,
mas cabe a ele mesmo não ser reduzido a simples seguidor de tarefas, é preciso ser
dono de sua própria história, tendo o controle nas mãos.
Cabe ao indivíduo ter sensibilidade o bastante para não incorrer no erro de se
tornar escravo do sistema e ter a capacidade de se recompor, mesmo depois de
vivenciar experiências traumáticas.
A seguir falaremos sobre algumas ações promotoras do bem-estar do
educador:
Receber o apoio da equipe gestora
A peça fundamental no processo de ensino-aprendizagem é o professor, é
como se esse profissional fosse a alma da escola, mesmo que esta tenha toda
estrutura física se o professor não for bem preparado, o processo de ensino-aprendizagem
não será efetivado.
Além de suas próprias atribuições e conhecimentos, o professor precisa
receber apoio constante da equipe gestora, que é composta por um trio que inclui o
diretor, o coordenador pedagógico e o supervisor pedagógico:
1. Diretor: responsável legal, judicial e pedagógico pela instituição e o
líder que garante o funcionamento da escola.
2. Coordenador pedagógico: profissional que responde pela formação
dos professores.
3. Supervisor de ensino: representante da secretaria de Educação que
dá apoio técnico, administrativo e às escolas.
Uma pesquisa realizada pela Fundação Vitor Civita realizada em 2009
atestou que as escolas que tiveram melhor desempenho na Prova Brasil são as que
têm maior proximidade com a secretaria da educação, na figura do supervisor que é
o responsável por monitorar a aplicação e a continuidade das políticas públicas e por
acompanhar o desenvolvimento do projeto político pedagógico etc.
Infelizmente nem todas as escolas integram o trio gestor de maneira efetiva,
já em outras, mesmo que os três profissionais estejam presentes na escola, o embate
entre eles não deixa o trabalho fluir de maneira satisfatória.
Manter-se em constante formação
A Universidade é o primeiro estágio formal de formação de
um professor, mas sabe-se que essas instituições, unicamente, não
preparam os professores para a docência. Por outro lado, não se
pode admitir que os alunos sirvam de cobaias a novos professores
que vão aprender com a prática do dia a dia o ofício de ensinar.
Uma das saídas possíveis para esse impasse são os programas de educação
continuada. A constante formação traz autoestima ao docente, pois quanto mais
conhecimento das práticas docentes tiver, melhor ele conseguirá encontrar soluções
em suas aulas.
Dispor de horários para estudos e lazer
Sabe-se que o trabalho do professor é muito mais do que planejar, ministrar
aulas, elaborar e corrigir trabalhos e provas, em sua grande maioria lida com um
grande número de salas, com muitos alunos. Geralmente, usa seu horário de
intervalo na escola para atender alunos e pais, além de usar suas poucas horas de
folga em casa com as obrigações docentes acima mencionadas, sem receber nada a
mais por isso.
Em meio a todas essas obrigações, é importante dividir bem o tempo de
modo a dispor de tempo para práticas de lazer, leituras e estudos que saiam um
pouco do campo da docência.
Contar com o apoio dos demais educadores
Já falamos neste curso sobre a importância
da noção de cooperativismo no corpo docente de
uma escola.
Pesquisas apontam que escolas em que o
corpo docente é unido e divide suas angústias e
progressos têm mais chances de serem bem
sucedidas no processo de ensino-aprendizagem.
Portanto é importante criar um ambiente de interação entre os professores.

Manter a disciplina sobre controle
A maioria dos problemas que afetam a saúde emocional do educador está
ligada à indisciplina em sala de aula, portanto é preciso buscar mecanismos para
mantê-la sobre controle. Dominar o conteúdo e utilizar estratégias eficientes para
ensiná-los aos alunos faz com que os docentes consigam ter a autoridade necessária
para controlar a indisciplina da turma. É claro que isso não é uma questão fechada,
às vezes nem o melhor dos professores consegue manter a sala completamente livre
da indisciplina, nesses casos, o melhor a fazer é chamar o responsável pelo aluno,
para descobrir as reais causas dessa indisciplina e a partir daí criar um plano de ação.
Ter boa condição de trabalho
Boas condições de trabalho é a condição fundamental para que o trabalho
docente seja realizado de maneira satisfatória. Valorização do profissional, aumento
do poder de compra do salário do professor, respeito e carinho por parte dos alunos
são algumas ações que contribuem para o bem-estar do professor e o
desenvolvimento de seu trabalho docente.

Ter conhecimento profundo do projeto político pedagógico
O Projeto Político Pedagógico é o documento mais importante da escola, pois
lá estão todos os objetivos, projetos e metas que a escola em questão deseja alcançar.
É como se o PPP – Projeto Político Pedagógico – fosse um guia para todos os
profissionais da educação que trabalham no colégio e não só o professor, como todos
envolvidos: coordenadores, diretores, porteiros etc. O professor como peça principal
no processo de ensino-aprendizagem precisa conhecer profundamente o PPP e não
só conhecer como participar ativamente da sua criação.

Ser prestigiado
No Brasil, o professor ganha em média, 40% a menos do que profissionais
com a mesma escolaridade; esse é apenas um dos dados que mostram o quanto o
professor é desvalorizado no país.
Nos países em que o professor é valorizado, como a Coreia do Sul, todos os
professores devem ter mestrado e ganham, em média, R$10,5 mil por mês, o
resultado disso é que lá se concentram os melhores alunos do mundo.
A profissão precisa ter o prestígio que é a ela merecido, sem os professores
nenhum outro profissional se faz.

Resiliência Docente
Segundo a física, resiliência significa a
capacidade de um material retornar à forma ou
posição original depois de cessar a tensão
incidente sobre o mesmo, determinada pela
quantidade de energia devolvida após a
deformação elástica.
Esse termo é amplamente discutido na
psicologia, que o entende como sendo a
capacidade que um indivíduo tem de se
recompor depois de ter passado por uma situação desgastante de tensão.
Como já dissemos anteriormente, as condições de trabalho às quais os
professores são submetidos, as mesmas agravam os problemas emocionais dos
docentes. Ter a capacidade de resiliência não quer dizer ser invulnerável, ela trata da
capacidade que as pessoas têm, individualmente ou em grupo, de conseguir se
recompor depois de passar por situações indesejáveis e é fundamental para o
facilitação da prática pedagógica, fatores como autoconfiança, autoestima e apoio
ajudam nessa tarefa. No trabalho docente, a resiliência é uma qualidade primordial, pois são muitas as situações de estresse pelas quais o professor passa e convive. Essa
capacidade não o tornará imune a qualquer sofrimento, mas o tornará mais resistente
e contribuirá para que não adoeçam e se mantenham em constante equilíbrio.
Existem várias definições para o termo Resiliência, mas é unânime a ideia de
que resiliência seja a capacidade que o indivíduo tem de passar por uma situação
difícil e de conseguir enfrentá-la. Principalmente no meio docente, o professor, com
o advento do mundo globalizado, foi obrigado a assumir uma série de outras funções
além de ser o mediador do conhecimento, tal como agente socializador que transmite
aos alunos e a toda a comunidade escolar valores e comportamentos éticos e
saudáveis; junte-se a isso a infinidade de prazos e obrigações burocráticas as quais
ele precisa cumprir.
Nesse ambiente estressante é necessário exercitar a resiliência, que pode ser
inerente ao indivíduo ou ser produto do meio em que vive, na segunda opção, a
escola deve estimular ações que ajudem o professor exercitar a sua autoconfiança,
autoestima e fazer com que ele entre em um processo de autoafirmação de modo a
desenvolver características, como inteligência, liberdade, responsabilidade e
reflexão.

Característica do profissional resiliente
O profissional resiliente é fundamental nos dias atuais em que as mudanças
acontecem tão rapidamente. Esse profissional caracteriza-se pela proatividade e
iniciativa, que o faz estar à frente de suas reais necessidade e funções.
Criatividade e inovação também são características
resilientes, é preciso estar sempre em busca de novas
alternativas, novas maneiras de encarar os problemas e
revolvê-los.
Este profissional está sempre aberto a mudanças, pois
como citado acima, não tem medo de novos desafios, pois
está sempre procurando novas formas de resolução de um
mesmo problema.
Autoestima, autoconfiança e inteligência emocional também são
características do profissional resiliente, ter uma enorme sensibilidade para entender
seus próprios problemas e lidar com eles.
Reconhece-se um profissional resiliente pela forma que este lida com a vida,
a pessoa resiliente é autoconfiante, acredita que é capaz e vê uma adversidade
sempre como uma possibilidade de aprendizado e crescimento e se faz responsável
pela sua própria história.
É fundamental trabalhar as características resilientes nos docentes, pois como
dissemos anteriormente, essa é uma característica individual, mas que pode ser
lapidada conforme o meio em que se está estabelecido.

Práticas de Atividades Físicas
A prática de atividades físicas
é um dos requisitos básicos para as
pessoas que desejam ter uma boa
qualidade de vida.
Muitos professores relatam
melhora de concentração,
autoconfiança e humor, além de
sentimentos de alegria, interesse e
vontade, depois de aderir a programas de atividade física.
A prática esportiva mais comum é a hidroginástica que atua no controle da
pressão arterial; melhora de problemas respiratórios, como bronquite; diminuição
dos níveis de estresse e irritação, diminuição na incidência de câimbras, melhoras na
qualidade do sono e como é um esporte coletivo faz com que a pessoa aumente o seu

círculo de amizades.
O corpo é uma das ferramentas de trabalho do professor e o equilíbrio entre
mente e corpo é essencial para o bom exercício da prática docente. Profissionais da
saúde estão cada vez mais se voltando para estudos que contemplam a ligação entre a
prática de exercícios físicos e a saúde emocional.
O sedentarismo está diretamente ligado aos transtornos de ansiedade, já os
exercícios físicos, seja pela questão fisiológica, seja pela capacidade de agregar os
indivíduos, ajudam aos trabalhadores a recuperar o equilíbrio, o que é imprescindível
para a boa saúde emocional e a boa prática docente.
A prática de exercícios físicos sempre é benéfica para o corpo e a saúde
mental, entretanto é preciso tomar uma série de precauções e saber quais são as reais
condições do corpo para não causar nenhum mal ao mesmo.
Os professores que pretendem iniciar um programa de exercícios físicos
precisam conhecer o seu próprio corpo, mesmo os que são aparentemente saudáveis
precisam procurar um médico a título de precaução, antes de se exercitar.
Gestantes, hipertensos, pessoas com problemas ósseos ou articulares
precisam ter cuidados redobrados quanto ao acompanhamento médico. Importante
lembrar que tanto essas quanto as aparentemente saudáveis precisam começar a
praticar exercícios físicos de forma gradual. O importante é se exercitar e não a
quantidade e intensidade do exercício; a exaustão causada por um programa de
exercícios físicos que ultrapassem a capacidade corporal, só fará mal à saúde mental
e emocional, além do desgaste físico.
Existem muitos exercícios de baixo impacto e que fazem tão bem quanto os
de alto impacto:
 Aeróbica;
 Caminhadas;
 Corridas leves e curtas;
 Hidroginástica;

 Yoga;
 Pilates;
 Aulas de dança;
 Etc.
A ideia primordial da prática de exercícios físicos, no sentido de fazer bem à
saúde emocional dos educadores é dar prazer aos que recorrem aos mesmos, portanto
nenhum exercício que dispense muita energia e esforço fará muito bem. Lembre-se:
é muito importante respeitar os limites do corpo.
Entende-se por atividade física, qualquer movimento corporal que resulta em
gasto de energia, portanto se sua rotina não permite pôr em prática um programa
sistemático de exercícios físicos tente incorporar a ela algumas ações como:
 Deixar o elevador de lado e usar as escadas, pelo menos duas vezes por
semana;
 Usar a bicicleta como meio de transporte, pelo menos uma vez por semana;
 Descer do ônibus um ponto antes do seu para realizar uma caminhada;
 Alongar-se antes de sair da cama;
 Dançar e cantarolar enquanto se arruma para o trabalho;
 Praticar exercícios de respiração – inspire, segure o ar por quatro segundos,
em seguida expire e conte até quatro antes de inspirar novamente. Repita por
cinco vezes.
Atitudes simples que podem melhorar o seu humor e consequentemente
ajudar na sua saúde emocional.
Pesquisas afirmam que os exercícios físicos, em algumas pessoas, estimulam
as mesmas áreas do cérebro que os antidepressivos e ajudam as pessoas com
depressão a desenvolver atitudes mais positivas diante da vida. Para pessoas com
distúrbios de ansiedade, o exercício reduz o medo e sensações como o coração

acelerado ou a falta de ar.

Lembre-se, sempre siga as instruções do seu médico e nunca abandone um
tratamento com medicamentos, mas se ele não propôs a prática de exercícios físicos,

discuta a questão com ele e encontre um melhor caminho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário